quinta-feira, 24 de junho de 2010

O caderno secreto de Lori


"Quando o obsceno é revelado no olhar de uma criança"

Há alguns meses tive o prazer de assistir o espetáculo teatral "O caderno secreto de Lori", um monólogo de Jéssica Azevedo com direção de Marcelo Rocco, adaptação do livro "O caderno rosa de Lori Lamby" de Hilda Hist.

Já conhecia a sinopse da peça, por conta de amigos e da própria Jéssica, que havia falado um pouco do processo de criação e acabou comentando uma coisa ou outra do enredo, mas sinceramente nada me prepararia para o espetáculo.

A peça "aborda temas referentes à sexualidade humana, à relação do prazer e do desejo, ao abuso e exploração sexual infantil, à pedofilia, à erotização infantil e da mulher, ao consumismo, à banalização do sexo”.

Minha memória não é das melhores, mas lembro bem das bonecas mutiladas na entrada, do clima pesado quase aterrorizante, de haver algumas caixas no palco, de ver a atriz vestida de menina... a partir daí não me lembro de nada com tantos detalhes, fui engolido pela história; as caixas e a atriz desapareceram, restou apenas uma menina de oito anos com seu jeito meigo, doce e ingênuo relatando suas experiências sexuais com adultos inescrupulosos, de uma forma tão sincera, tão infantil, como se estivesse contando sobre alguma brincadeira... é paradoxal... desconfortável... um verdadeiro tapa na cara.

Estava tão impressionado que cheguei a ficar nervoso com as risadinhas de algumas pessoas da platéia, mesmo sabendo que se fosse um personagem adulto no lugar da menininha contando aquelas coisas elas seriam engraças...

Lori é uma criança aniquilada pelo comportamento sexual dos adultos, pela publicidade "sex", nosso modelo de beleza cada vez mais jovem, e principalmente por quem deveria protegê-la. Lori é uma vítima e não faz a menor idéia disso, e isso é grande sacada da peça, ela não é uma propaganda do governo dizendo que pedofilia é "feio", mas é um retrato de quanto ela é perversa.

Um espetáculo forte e impressionante, que recomendo a todos, seja você um aficionado, ou como eu, que faz visitas esporádicas ao teatro.

A peça foi vencedora de 4 prêmios no FETO (Festival Estudantil de Teatro), incluindo o de melhor atriz, direção e espetáculo.


Está em curtíssima temporada no teatro Marília aqui em BH: dias 26 e 27 (sábados e domingo) às 20h.

2 comentários:

  1. Oi!!!!!
    Antes de mais nada o seu desenho consegui capturar bem o espírito da peça, parabens!!!!

    Fui a peça no sabado, assim como você fiquei meio desnorteada, mas foi muito bom!! A atriz é ótima, mas o que mais impressionou foi o trabalho com as luzes, e como eles usaram as caixas para quase tudo, Meu namorado quase de uma vuadora no idiota que tava rindo, muito irritante mesmo!! falta de noção!

    Acho que te vi lá, você tava de blusa vermelha?

    Um beijo! muito bom o teu blog!

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  2. Oi moça!
    Obrigado pelo elogio ao desenho e ao blog!E que bom tenha gostado da peça também. Sim, era eu no sábado... gripado pra caramba, cansado de uma noite sem dormir trabalhando e saindo do estágio, enfim: um caco. Mas tinha que ver essa peça de novo. Verdade, dessa vez pude perceber o quanto o trabalho da iluminação é ótimo.

    Obrigado pelos elogios e volte sempre! Um beijo!

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